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As redes sociais, com o Facebook à cabeça, vieram dar mais visibilidade a um fenómeno intrínseco à natureza humana: ter pena e gostar da desgraça. Já toda a gente se apercebeu, certamente, da quantidade de pessoas que subitamente se tornam fãs de alguém que morreu. A quantidade de Rest In Peace, nalguns casos, é inversamente proporcional ao apreço que as pessoas tinham pelo trabalho do defunto.
Este não é um fenómeno novo. Já acontecia. É da natureza humana. Se assim não fosse, não havia espaço para o sensacionalismo, por exemplo. É até natural que assim seja. O ser humano é feito de emoções. Ainda assim, é mais do que emoções. Tem também ao seu dispor (ou deveria ter) a racionalidade para equilibrar os momentos em que estamos a sentir demais. Ter pena da morte de alguém seja pelas circunstâncias, pela idade ou pela morte em si é legítimo. Gostar a título póstumo é inútil.
No caso do Facebook, os imensos Rest in Peace aborrecem um pouco em determinadas circunstâncias, mas não há nada a fazer para além de desligar a rede social ou esperar que passe. Há muita gente que leva esses dias a queixar-se, mas acreditem em mim: vai acabar por passar.
Aquilo que me parece ultrapassar o limite do bom senso é fazer like em páginas de pessoas que faleceram recentemente. É verdade que até podiam ser fãs antes e simplesmente não ter feito like, mas isso torna o caso ainda mais sério. Foi preciso um ídolo morrer para lembrar alguém de que é fã.
O objectivo de fazer like numa página de alguém é receber conteúdo dessa pessoa. Se querem continuar em contacto, proponho que apaguem as luzes e acendam velas e entrem no Mundo das sessões espíritas (“ai que mórbido!”. Pois. Fazer like em mortos é que é revigorante).
Proponho que o Facebook crie um método para evitar que isto aconteça. Dou duas opções:
a) Na altura da inscrição, o formulário conter a pergunta “gosta de mortos?”. Se a resposta for afirmativa, então não era possível inscrever-se;
b) Onde diz “esqueceu-se da palavra-passe?” também dizer “perdeu a cabeça?”. Pode haver pessoas que reconheçam e carreguem lá. Essas pessoas também eram banidas. Este botão poderia servir para outras circunstâncias também.
Eu já fiz a minha parte. Expus o problema e propus soluções. Agora é a vossa vez. Podem começar por parar com isso, por exemplo.
Nota: encontrei o site de uma funerária que nos reencaminha para o Facebook. Lá, eles publicam fotos das pessoas que faleceram e pedem às pessoas para deixar condolências. Algo como “se queres que descanse em paz faz gosto; se queres que arda no Inferno, comenta”.
Francisco Mendes
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