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O Post da Praxe

por cincodiasuteis, em 04.09.14

O mês de Setembro é o mês da praxe por excelência. Aproxima-se um dia muito importante para aqueles que tiveram a melhor semana da vida deles em Lloret, Calpe ou Benalmádena (não vale virem agora dizer que é a semana de praxe que eu bem vos ouvi nas reportagens dos telejornais!). Sinto no ar o cheiro a crónicas sobre praxe pelo que decidi jogar em antecipação e ser o pioneiro deste ano a falar sobre o tema.

 

A praxe é um daqueles assuntos que levanta ódios e paixões e, como tudo o que assim é, dá azo aos maiores disparates argumentativos de que há memória logo a seguir a qualquer conversa de reality show. De ambos os lados. Há, na verdade, estas duas correntes na praxe: a dos abolicionistas – aqueles que defendem o seu fim- e a corrente do Oceano Atlântico.

 

Os abolicionistas são aqueles que fazem da praxe toda um atentado aos Direitos do Homem quase semelhante ao Holocausto. Para eles, em todo o lado as pessoas são obrigadas e sofrem humilhações pondo de parte a possibilidade de que haja pessoas que estão lá porque gostam e escolheram lá estar. Quando assim é, não prejudicando outrem, ninguém tem o direito de proibir seja o que for.

 

Depois há os pinguins (e eu também já fui um deles mesmo sem nunca ter sentido muito a coisa). Aqueles que bradam aos sete ventos que é integração e que até é um favor que estão a fazer aos caloiros. No fundo, são tão bons samaritanos que deviam vestir-se como eles em vez de usar traje. Se a praxe é essencial por causa da integração, então os alunos que se declaram anti-praxe estão desintegrados. Em oposição a quem participa na praxe, dada a desintegração, até se deviam chamar vaivém Columbia.

 

Há também aqueles que pugnam (todos devíamos pugnar. Pugnem pelo menos uma vez por dia) por uma sociedade sem classes e sem desigualdade e depois praxam e defendem a hierarquia da praxe. Eu bem sei que é natural gostar de hierarquias quando se está no topo das mesmas, mas fica um bocado mal estar trajado, tocar o telemóvel e ouvir-se a Carvalhesa. Parece um bocado incoerente.

 

A praxe é uma brincadeira e é a única forma de a encarar. Aqueles que gostam dela que se divirtam e respeitem toda a gente que faz parte. Aqueles que não gostam que não participem e deixem participar quem quiser experimentar. Só desejo que não haja mais problemas. Se alguém tiver os olhos mais negros do que um panda, que seja apenas por estar com olheiras.

 

Francisco Mendes

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Há precisamente um ano escrevia-te esta prenda. Como este ano também te quero escrever aguma coisa, até segunda-feira, dia do teu aniversário, limito-me a publicar aqui alguns excertos (não o texto completo, cheio de extensas notas de rodapé, à David Foster Wallace) do empreendimento que me ocupava os primeiros dias (úteis) de Setembro de 2013. 

 

 

A biografia segundo o apaixonado1



A ti, que me vais tirando palavras –
fazendo um homem.

 

  

 

Agora homem - com a mania de que era poeta - apaixona-se por ela.

Catarina Barroso

 


I


Sinto as tuas mãos dentro das minhas, aprisionadas na minha pele, brancas antes do osso; esta sensação de que as minhas mãos são só os uniformes sujos que as tuas usam para trabalhar, arrancar do papel palavras minhas, também só os uniformes sujos das tuas palavras, que se sabem conservar mais sem serem: quando te chegam aparentam uma gestação completa: estão melhor inacabadas. Descobre afinal que a folha de papel não é um símbolo de pureza; nenhuma folha sim. Tantas vezes o desejo de entrar dentro de ti; agora o desejo de te tirar cá de dentro para te devolver suja de pensamentos, memórias e emoções – tu necessariamente outra matéria. Não tenhas medo desta minha incapacidade de fugir ao corpo, mesmo quando tudo se passa sem incomodar a disposição da sala.        

– A tua cara de susto, em choque, quando corri na tua direcção, não para te empurrar, como pensaste, mas na esperança de me fundir a ti, depois de três passos de balanço, entrando no teu corpo como num portal, rasgando um véu líquido de todas as cores2, à ficção científica, com o desejo de ser nós em corpo e para sempre.      

Não tenhas medo; é de novo outra coisa. Se não nos soubesse imensos, não faria isto: temia esvaziar-me de ti. Continua comigo sem medo de nos perder.

 

1 O título era “Nasceste-me”, mas não quero ser citado nas redes sociais.

2 Nuno Costa Santos, escritor e argumentista português, não aprovou esta passagem; para ele está no limite do kitsch. Para atenuar o problema acrescentei “à ficção científica” (não me peças que te explique esta má solução).

 
António Trindade Vieira

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E não digam que vão daqui

por cincodiasuteis, em 03.09.14

O Verão é a altura do ano em que mais animais de estimação são abandonados. Não deve haver melhor altura, então, para que as associações de defesa de animais consciencializem as pessoas sobre este assunto e apresentem alternativas a quem vai de férias e não pode levar o seu animal atrás.

 

Não quero generalizar. Vou concentrar-me apenas numa das associações. A associação ANIMAL. É verdade que eu falo muito neles e no PAN (nem sei bem qual é a diferença). Confesso que eles estão para a minha vida como a lua para as ondas, o poder para o Alberto João Jardim ou o leitão para a Bairrada - não vivo sem eles.

 

Desafio todos a irem ao Facebook da ANIMAL e a procurarem uma única referência a este assunto desde que se iniciou o Verão. Mais! – desafio qualquer um a encontrar algo que não seja relacionado com a actividade tauromáquica.

 

Dir-me-ão que é porque a actividade tauromáquica encontra o seu expoente máximo de actividade durante o Verão. A questão não é protestarem contra isso. A questão é preferirem protestar sobre um assunto controverso e nada fazerem em relação a um assunto unânime. Dá mais visibilidade, é verdade. Mas para que lhes serve isso?

 

A postura da ANIMAL é o correspondente àquelas actrizes que relançam a carreira pondo implantes de silicone. A atenção deixa de estar virada para a forma como representam, mas toda a gente fala delas. Nem que seja para dizer que ganhariam sempre no photo finish.

 

Eu tenho uma visão muito particular sobre a ANIMAL. Eu vejo-os como um concorrente do Ídolos. Não como um dos que ganhou (se assim fosse, nunca me lembrava deles. Nem eu, nem ninguém). Um daqueles que fez figuras tristes e toda a gente comentou e que toda a gente recorda. A ANIMAL é o Bubacar das ONG.

 

Espero que este texto não fira nenhuma susceptibilidade de ninguém da ANIMAL ou simpatizante (como nos clubes de futebol). Até porque, uma vez mais, fiz-lhes publicidade. E não digam que vão daqui.

 

Francisco Mendes

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Neste reino há uma só causa

por cincodiasuteis, em 02.09.14

O sangue derramado no palácio era inversamente proporcional ao sangue derramado nas ruas.


Depois de fazer amor, e antes mesmo de se limpar, o rei solicitava um mensageiro.
O orgasmo precipitava-o para a guerra.


É evidente que o seu exército tivera mais trabalho nos primeiros tempos de casamento. Depois de alguns anos de paz, o rei desceu ao quarto de uma das criadas - o país vizinho estranhou mais do que a rainha.


Após o gemido serviçal, uma sirene.

Para ocultar da sua esposa esta aventura, recuou com a ordem – possuir o arsenal mais temido do continente ajudava o rei, tanto a coreografar os passos da diplomacia, como a manter o casamento.               


Todos sabiam que nada daquilo era uma súbita mudança de estratégia; as decisões sobre a política externa do reino tinham causas mais secretas...
Hoje diz-se que Emílio, um fiel escudeiro, tinha uma teoria para o comportamento do rei. De facto, se tivesse escrito o livro que chegou a planear, hoje saberíamos mais sobre este estranho (?) caso; infelizmente a sua intensa vida sexual não o permitiu atirar-se a esse empreendimento. 

 

 

António Trindade Vieira

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Ice Text Challenge

por cincodiasuteis, em 02.09.14

Às vezes a linha entre a notícia e a publicidade é demasiado ténue para duas coisas que deveriam ser diametralmente opostas. Não me refiro aos casos de publicidade a marcas e a empresas. Refiro-me às notícias que podem alterar a realidade social para pior.

 

A meu ver, a notícia do meet no Vasco da Gama é um desses casos. A notícia não devia ser ocultada, obviamente, mas o ângulo de alguns meios de comunicação social parece-me errado. Até que ponto as pessoas se encontravam em espaços públicos através de eventos de Facebook para provocar desacatos? Era uma coisa assim tão frequente para lhe chamar “moda”?

 

A forma como isto foi abordado é como lançar um alerta de tornado, porque o Pedrinho do 2.º esquerdo fez anos e soprou as velas. Só não digo que incendiaram o ambiente, porque logo a seguir vêm as notícias dos banhos públicos e não há tempo para que as chamas se formem.

 

Ainda assim, não é algo inconsequente. Se de um lado aquecem e do outro arrefecem, quem fica no meio entra em choque térmico. E o bom jornalismo é aquele que é servido à temperatura ambiente como um bom vinho tinto.

 

É importante frisar que não estou a dizer que as coisas não devam ser noticiadas. Sejam boas ou más. É importante contextualizar e perceber se se trata de um acontecimento recorrente ou se foi um acontecimento isolado. Tratar acontecimentos isolados como se fossem uma prática recorrente apenas porque é uma “moda” noutros países é apenas dar ideias a quem não precisa para fazer mal e levantar medo a quem tem que sair de casa todos os dias.

 

Escrevo este texto por causas solidárias. Já depositei as minhas ideias na cabeça de todos aqueles que estão a ler estas palavras. Agora nomeio todos os jornalistas para que façam o mesmo e depositem estas ideias na cabeça uns dos outros. 

 

Francisco Mendes

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Ela e o romancista

por cincodiasuteis, em 01.09.14

No fundo do meu ambiente de trabalho deixei de ter uma fotografia tua para passar a ter uma fotografia do gigante escritor russo Liev Tólstoi (a minha mais recente paixão, que, ainda esta semana, merecerá uma crónica).

Na universidade, quando entrevistei o Ricardo Araújo Pereira, ele disse-nos qualquer coisa assim: as pessoas que manifestam publicamente a sua intenção de escrever um romance não querem mais do que um adiantamento de prestígio.

Eu quero muito escrever um romance. Estou à vontade, assumo sem rodeios, talvez porque já tenha pedido o meu adiantamento de prestígio, precisamente quando entrevistei o Ricardo Araújo Pereira na universidade - aliás, continuo a pedi-lo sempre que falo nisso. 

Eu quero escrever romances. Adoro poesia, mas quem tenho no fundo do meu ambiente de trabalho é o Tólstoi. É irónico, pois tu, que foste trocada, és toda mais poesia, até no que escreves, aqueles blocos de palavras que só ao longe (na parede de um oftalmologista) parecem prosa! 

Os poemas que escrevo não os levo muito a sério; raramente me angustiam.

Fica, então, aqui, nesta crónica, uns versos do futuro romancista (se Deus quiser):

A essência rodeada de corpo,
mais até do que o teu corpo,
é o que Lhe peço de ti. 

E algumas vezes não vejo,
entre versos que não são,
a tua carne viva.

É um sopro que apaga os versos 
a humidade e o calor.

O sopro também é não - 
ser absoluto sim e não.

Algures na eternidade amei-te - 
assim te falo, Catarina, do meu valioso presente.

António Vieira Trindade

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O Elogio

por cincodiasuteis, em 01.09.14

É difícil para o ser humano, na maioria das vezes, reconhecer o mérito daqueles que o têm. Não dou elogios de barato (como já devem ter percebido), mas gosto de não deixar passar em claro o elogio a quem o merece.

 

O cantor Anselmo Ralph merece o meu elogio. Gostos musicais à parte, elogio-o pela atitude que teve ao interromper o concerto em Cascais e chamar a polícia para travar os distúrbios que estavam a acontecer na assistência. Claro que muitos dirão que fez o óbvio. No entanto, eu acho que a atitude vai para lá disso. É nos momentos inesperados que muitas vezes vem ao de cima a verdadeira condição das pessoas. Nunca aceitei a desculpa de “não fiz nada, porque não estava à espera” de bom grado. Outros não estão igualmente à espera e conseguem-no fazer.


No caso de Anselmo Ralph, a decisão dele foi inteligente em dois aspectos. Por um lado, protegeu a sua imagem e a dos seus concertos no sentido de a descolar destes eventos e de tentar evitar que se repitam. Por outro lado, fez o que estava ao seu alcance para evitar uma tragédia.

 

A atitude do cantor merece ainda mais o meu louvor pelas palavras que proferiu. Teve a coragem e frontalidade de mandar para casa todos aqueles que estavam a causar os tumultos e ainda o discernimento de apelar à calma a todos aqueles que começaram a ficar agitados.

 

Não é isto que me vai fazer ouvir Anselmo Ralph. Mas o que está aqui em casa não é se se tratava de um concerto dele, de B Fachada, de Tiago Bettencourt ou de Ana Moura. Trata-se da atitude e forma de estar de uma pessoa que pode influenciar o comportamento servindo de modelo para muitas pessoas. Se assim for, que venham mais Anselmos Ralphs. Basta ir ao youtube para perceber que acontece o mesmo noutros concertos e a atitude é diferente. Afinal de contas, quem importa é quem está no palco. Essas pessoas, para mim, não são estrelas. São estrelitas. E quando Anselmo Ralph podia ter sido estrelita, manteve-se fiel a si mesmo e continuou chocapic. O meu louvor.

 

Francisco Mendes

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O Mergulho ou o espaço em volta

por cincodiasuteis, em 01.09.14

Por vezes, quando a água salgada me apanha os joelhos vêm-me aqueles versos à cabeça

 

My body is a cage

That keeps me from dancing with the one I love

But my mind holds the key

 

Deixo o corpo estendido em pensamentos antes de me atirar para o mar e durante segundos sou um espírito irrequieto com a água a invadir-me, aos poucos, o corpo. Depois quando mergulho quebra-se a distância  que estabeleci com o oceano. Um bom mergulho sucede um reflexo do dia que tiveste, da vida que levaste, das coisas que deixaste de sentir por receio, no fundo, sucede o momento em que aceitas que o mar te engole. Quem faz férias de praia ou de piscina (eu aconselho o mergulho no mar por ser mais profundo) há-de entender, de alguma forma, que o “espaço” antes de um mergulho é um ritual cheio de introspecção e retrospectiva; o mergulho é uma libertação por nos ser tão leve carregar o nosso mundo dentro de água. O que custa, de facto, é levá-lo às costas até ao fundo do mar onde os versos fazem sempre sentido

 

 

Set my spirit free

Set my body free

 

Vêm e vão como pensamentos contra as rochas; as ondas passam por cima do meu corpo, agora em modo videoclip à flor da pele onde o riff é mais importante do que a letra, e apagam o rastilho de ideias quem vem desde areia. Bracejo, nado, rodopio: são tudo coisas que faço por querer pertencer ao mar.

No fim, deixo que o calor seque o meu corpo ajudado por uma brisa que soa a Bowie, mas é só vento. Olho o espaço em volta e há sereias a mergulhar com o sunset no pensamento e balofos que brincam ao faz de conta com as criancinhas que se mijam de tanto rir. Fora de água tudo é chato: é assim a vida e os meus pensamentos

 

- Aquilo ali é Marrocos ou o horizonte? É que se for Marrocos eu tenho uma grande visão.  

 

Se eu soubesse o que sei hoje tinha dado outro mergulho. 

 

Pedro Ramalhete

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